Pior do que a convicção de um não e a incerteza do talvez será a desilusão de um quase. É esse quase que me incomoda, que me avassala o espirito e me entristece, que me mata ao trazer lentamente tudo o que poderia ter sido mas não foi. Quem quase saltou continua parado à espreita, quem quase viveu ainda sonha, quem quase alcançou está no mesmo lugar, quem quase morreu está vivo. Basta pensar em todas as oportunidades que se nos escaparam, no que se perdeu por medo de arriscar, de saltar de olhos fechados, nas ideias que nunca sairão do papel pelo simples facto de estarmos acostumados a viver num Outono eterno. Já não sobram questões e porquês o que sobra isso sim é uma contestação do que nos leva a escoher esta vida morna.
Afinal de contas as respostas, essas já são conhecidas, estão estampadas na frieza dos sorrisos, na ausência dos abraços, na indiferença dos " bom dia", quase que sussurados em silêncio com timidez. O que sobra do quase é uma covardia e uma falta de coragem para querer ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Fossem estas três boas razões para decidir entre a alegria e a dor ou o sentir e não sentir, mas não são. Se a virtude estivesse no meio termo nunca existiria o dia e a noite, os dias seriam nublados. O nada não inspira, não ilumina o escuro, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si, não é que as estrelas estejam ao nosso alcançe e que podemos num segundo mudar o mundo, não é isso, porém para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos apenas paciência, mas preferir a derrota prévia á duvida da vitória é desperdiçar a unica razão de a merecermos e essa é a de não vivermos no quase...
terça-feira, 5 de junho de 2007
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4 comentários:
Boa é a desmemória!
Sem ela, como iria
deixar o filho a mãe que lhe deu de mamar,
que lhe emprestou força aos membros
e que o retinha para o experimentar.
Ou como iria o aluno deixar o mestre
que lhe emprestou o saber?
Com o saber emprestado,
cumpre ao discípulo pôr-se a caminho.
Na casa velha
os novos moradores entram;
se lá estivessem ainda os que a construíram,
seria a casa pequena demais.
O forno esquenta, e do oleiro
ninguém se lembra mais. O lavrador
não reconhece o pão depois de pronto.
Como levantar-se de novo o homem de manhã, sem
o esquecimento que apaga os rastros da noite?
Como iria, quem foi ao chão seis vezes,
levantar-se pela sétima vez
para amanhar o pedregoso chão,
para subir ao perigoso céu?
É a fraqueza da memória que dá
força à criatura humana.
(Poemas e Canções.Trad. Geir Campos
“O amor é como um puzzle. Todos os dias colocam-se peças no grande puzzle que são os afectos. Há dias em que encontramos peças que encaixam na perfeição. E há dias em que descobrimos que houve um engano, que há peças desirmanadas que não encaixam em lado nenhum. Ficamos a pensar que talvez o puzzle onde vivemos os últimos anos não é a paisagem onde queremos ficar o resto da nossa vida, que temos de mudar de puzzle porque aquelas peças que pareciam perdidas são exactamente aquelas que são a chave para a nossa felicidade. Urge a mudança e sabemos que não podemos adiar para sempre…”
O ENGANO
Alfonsina Storni
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina
Sou tua, Deus sabe porque, já que compreendo
Que haverás de abandonar-me, friamente, amanhã,
E que embaixo dos meus olhos, te encanto
Outro encanto o desejo, porém não me defendo.
Espero que isto um dia qualquer se conclua,
Pois intuo, ao instante, o que pensas ou queiras
Com voz indiferente te falo de outras mulheres
E até ensaio o elogio de alguma que foi tua.
Porém tu sabes menos do que eu, e algo orgulhoso
De que te pertence, em teu jogo enganoso
Persistes, com ar de ator dono do papel.
Eu te olho calada com meu doce sorriso,
E quando te entusiasmas, penso: não tenhas pressa
Não es tu o que me engana, quem me
engana é meu sonho.
Obrigado por estas três pérolas gostei de lê-las.
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